quarta-feira, 11 de junho de 2014

Changin'!

Andei hoje um bocado. Sabe como é estudante, não é? Secretária da mãe e dona do seu nariz, tenho de andar por mim e por ela. E acabo por andar demais. E por fazer muitas coisas. E por ver coisas e pessoas e um mundo mais. E vejo gente.

E vi: uma menina que não vejo há aproximadamente três anos, ou seja, desde que saí do meu antigo colégio, desde que entrei no ensino médio. Águas passadas. Milena, o nome dela. Continua igualzinha á antes: baixinha, cabelos cacheados mal cuidados, simplicidade de menina, doce, calma. Acho que não lembra de mim. Tanto faz, tanto fez.

Também vi uma família (pai, mãe, filha, filhos) vendendo balas (doces) no ponto de ônibus o qual eu só vou muito cedo e só volto uma da tarde nas pouquíssimas raras vezes. Ou menos. Nunca os vejo, mas aquela foi a primeira vez em que os vi. Eles estavam acanhados. O pai estava discutindo com um outro moço sobre quando vender e onde vender. Discutindo mesmo, discutindo de ofender. Mas passou. Fiquei tranquila.

A mãe era magra e alta com cabelos ralos na cabeça e olhos grandes. Nas costas, haviam umas espécies de bolhas, mas não sei ao certo se realmente eram, apenas pareciam ser (de longe). A filha seguia a mesma linha da mãe, porém era muito nova (tinha, no máximo, uns 10 anos de idade) e tinha uma cicatriz enorme na perna que mais parecia uma facada cicatrizada há anos. O pai, ao mesmo tempo que discutia, almoçava. Comia um arroz sem graça, os meninos de pé esperando a demanda das balas de café para vender e a mãe e a filha dividindo uma garrafa de refrigerante de uva Goob, daquela bem pequenininha. Firmes e fortes. Todos os dias.

No ônibus, enquanto estava parado numa sinaleira, vi um senhor sentado fazendo uma mesa artesanal num canto perto de uma quadra de esportes. Ele também tinha uns sapatos próximos e uma lata de graxa. Coisa antiga, mas ali, com aquela sombra refletida na parede e aquela brisa daquele dia, estava lindo. Me senti na época da independência do Brasil. As primeiras obras totalmente nacionais, aquele cenário natural... Me senti tão baiana. Ôxente, seu moço!

Sinceramente? Depois disso tudo, refleti. Cheguei á algumas conclusões:


  1. Eu sempre tive uma vida ativa. Sempre fui responsável. Sempre fui séria e retraída e nunca precisei de ninguém pra me retrair. Eu sempre fui assim, mas isso, em partes, me ajudou. O fato de que eu não vejo Milena há anos me lembrou como eu era há estes mesmos anos atrás: ocupada, sempre tinha que fazer algo (cuidar meu sobrinho, aula de teatro, estudar, tudo isso). E hoje em dia, eu ainda sou ativa. Mais do que antes, por sinal. E lembrei de tantas pessoas que ficam na mesma. Gente que deveria ir pra frente, que deveria estar na minha frente e tudo, mas tá aí, na mesma. E eu indo adiante e adiante. Sempre com alguma coisa pra fazer, mas sempre contente com isso. É melhor ocupada do que com tempo de sobra para não fazer nada.
  2. Eu realmente tenho que estudar Humanas. Não tem outra área que seja a minha cara. Quando vi aquela cena daquela família fiquei tão triste. Lembrei que mais cedo tinha dado algumas moedas para uma moça que estava pedindo. E que, um dia, dei uma moeda de 25 centavos á uma moça surda-muda e me senti tão feliz. Senti até vontade de chorar com um gesto tão simples. E tão puro da minha parte. Digo isso porque foi a primeira vez que eu ajudei alguém. Fiquei feliz por ter ajudado. E quando vi aquela família que (muito provavelmente) vinha de longe para cá vender doces e discutir sobre quem vender aonde tão assustados, tão retraídos... O fruto do capitalismo, do terrorismo, da injustiça. E a avenida toda ornamentada para a copa (afinal de contas, Vasco da Gama é acesso direto á Arena Fonte Nova). Fiquei extremamente triste. Quis ajudar mas... Como ajudar? O que eu poderia fazer? Eu sou uma mera estudante que tem de saber como viver! Então, lembrei de um conversa com uma amiga minha sobre voluntariar. E, naquele mesmo instante, resolvi voltar a voluntariar sem mais nem menos. Tipo... Agora. Vou voltar á voluntariar, porque me sinto estúpida, indefesa e insignificante assim.
  3. Desde que eu resolvi assumir o cabelo crespo, meu lindo (aproximadamente) 4a me sinto mais baiana, mais eu. E, com a cena do senhor fazendo a mesa, me sinto mais baiana ainda. Sinto que eu agora me reconheço. Que tudo o que eu dizia antes em relação á Salvador e São Paulo era mero produto da mídia. Pobre eu... Pobre eu!
Conversei com minha mãe sobre tudo isso, bem resumidamente, e ela me disse "Que bom!". Agradeci por ela não ter dito nada em relação ao meu cabelo, ou algo do tipo "você quer deixar seu cabelo duro" e ela disse "O cabelo é seu. A escolha é sua. Se você quer deixar seu cabelo assim é problema seu. Como você é bonita, vai ficar bonito duro ou não...". Eu ri! Afinal de contas, não se pode levar tudo "nos peitos", não é? Entendi com bom senso o que ela disse. Mais uma mudança: otimismo em mim! 

É, li umas coisas também falando sobre a diferença de educação para falsidade, onde Jô Soares diz que falsidade é não gostar de alguém e dizer "te adoro, amigo" e educação é cumprimentar mesmo não gostando de alguém. Afinal de contas, não é porque eu não gosto de fulano que não vou dizer "boa tarde". Não posso me incomodar com presenças alheias, tenho que ser profissional. E ser profissional não é ser hipócrita.

Vivendo e aprendendo a jogar...

Resumindo, hoje estou encontrando quem realmente sou e me sinto feliz com isso. E aconselho á todos os seres humanos que procurem encontrar quem realmente são. Afinal de contas, não há nada melhor do que saber que é se impor frente á qualquer coisa/um em qualquer lugar.


Agora, #ConselhoDaMiss: Go Find Yourself!


Miss

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